BTS, Map Of The Soul, a música Jamais Vu e a tentativa de desvio da agonia
Mesmo antes de ler a tradução da letra, essa é uma música que definitivamente vai te atingir profundamente. É possível sentir o misto de angústia, decepção e também uma certa esperança na voz de Jungkook, Jin e Hobi.
Antes de mais nada, ‘Jamais Vu’ é um termo psiquiátrico que funciona como um oposto para ‘Déjà vu’, que é um termo já mais conhecido. ‘Jamais vu’ é uma expressão em francês que significa ‘jamais visto’, ou seja, enquanto ‘Déjà vu’ é sentir que algo já foi visto ou já aconteceu, ‘Jamais vu’ é a sensação de que algo familiar é completamente desconhecido. Acontece quando nos deparamos com um lugar ou uma situação conhecida ou recorrente na nossa vida, mas temos a sensação de que não a reconhecemos. Deve ser uma experiência bastante estranha…
Assim, juntando esse conceito com a letra, compreendemos que essa é uma música sobre “repetições”, como mencionou o Dr. Stein. Uma música sobre experiências que enfrentamos, mas parece que não aprendemos com elas. Cometemos os mesmos “erros”, tropeçamos de novo e de novo e temos que lidar com os mesmos problemas novamente, como se fosse a primeira vez. Por isso, olhando sob uma perspectiva jungiana, podemos dizer que essa canção fala, de certo modo, sobre o que Jung chamou de “COMPLEXOS”.
Um complexo é, portanto, um objeto do nosso inconsciente “composto de imagens associadas a memórias congeladas de momentos traumáticos que estão enterradas no inconsciente e não são facilmente acessíveis para recuperação pelo ego. São as lembranças reprimidas.” (STEIN, 2006, p. 55) Dessa forma, as reações psicológicas que, usualmente, temos em relação aos complexos são exatamente o tema da música “Jamais Vu”. Entramos nas mesmas situações e reagimos da mesma forma, mesmo sabendo aonde isso vai nos levar. Cada vez é doloroso, como se fosse a primeira vez, e nos arrependemos novamente. Isso se repete continuadamente até que uma intervenção quebre esses ciclos do complexo. Repare no verso em que Jin canta: “Dói todas as vezes como se fosse a primeira vez''.
“Remedy (= Remédio / Solução)
I run again and fall again (= Eu corro de novo e caio de novo)
Honestly (= Honestamente)
Even if this repeats countlessly (= Mesmo que isso se repita continuamente)
I’ll run again” (= Eu vou correr de novo)
Foi por conta desses versos que eu disse antes que, em meio a agonia e angústia, também é possível sentir na voz dos meninos uma certa esperança. Representa a determinação que devemos ter de nos manter no caminho do desenvolvimento psicológico e da nossa jornada interior, embora caiamos muitas vezes. Lutar contra os nossos complexos faz parte de qualquer processo de crescimento e amadurecimento. Com o passar do tempo, talvez possamos reconhecer os nossos complexos, nomeá-los e, talvez, diminuir o número das nossas “quedas”. Assim, algo importante que os complexos e “Jamais Vu” nos ajudam a entender é que a vida psicológica que existe em nós sempre será repleta de luta para que possa haver amadurecimento. Nenhum de nós jamais será perfeito e está tudo bem. O que importa é que tornemos cada vez mais conscientes de tudo o que faz parte do que somos.
“I won’t give up” (Eu não vou desistir)
-Matteo Raiser
insta: @psimatteoraiser
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